Por Joaquim Monteiro
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Dora Parentes é uma artista contemporânea como poucas hoje
em dia, de forte formação acadêmica, une o rigor técnico classicista à
pincelada livre e tachista, une o naturalismo e a realidade fantástica, em suas
telas mostra a sensualidade feminina, a pureza das plantas e o vigor equino.
Segundo o artista Jaguar (d’O Pasquim) “Sua linguagem pictórica conjuga um
rigor clássico com ousadias gestuais e cromáticas, que às vezes avançam para a
mais pura abstração, dentro das composições eminentemente figurativas".
Dora é uma das artistas piauienses de maior expressão fora
de seu estado. Já tendo feito exposições e sendo condecorada em todo o país e
fora dele, tem reconhecimento internacional. Escreveu sobre ela o escritor
equatoriano Raúl Peres Torres:
Olha Dora, embaixo desta aparente
tranquilidade, porém, um diabo cavalga em sua paleta, um Deus move a faz
ofegar. Alguém sangra em sua serenidade,
talvez a história, esta memória coletiva que os homens construíram montados em
seus cavalos. Grupos terríveis, majestosos, todos e um a um bloco escultural.
Sim olho a artista, essencial, sensual, aberta, livre abaixo o olho desamparado
da noite brasileira, vigiando atenta o trote de seu macho, o passo majestoso de
seus cascos, este movimento constante que vem até aqui, até estes quadros.
Dora nasceu Doralice Andrade Parentes na cidade de Piripiri,
no Piauí. Formou-se no Rio de Janeiro e iniciou sua carreira no Salão Nacional
de Belas Artes, na década de 1960. Após
uma carreira de prêmios e condecorações, tornou-se, no ano 2006, ocupante de uma
cadeira na Academia Brasileira de Belas Artes.
Por tudo isto Dora é Dora.
Uma das características da burguesia é o gosto refinado pela
arte chamada de erudita. Já nos longínquos anos renascentistas, a
“pré-história” capitalista, o mecenas burguês tinha o seu artista da família,
os gênios renascentistas enriqueciam as coleções das famílias burguesas e seus
bolsos, também. Ainda hoje, os homens e mulheres da alta roda se vangloriam de
ter em seu poder obras de artistas renomados, ostentam coleções milionárias de
quadros de artistas famosos. As tem não só pelo gosto “refinado” pela arte
“erudita”, mas também, como não poderia deixar de ser, para especular no riquíssimo
mercado da arte mundial.
A burguesia fede, Cazuza já definiu, a burguesia piauiense é
obscurantista, medieva e ignorante, é provinciana. São “cabocos” querendo ser ingleses,
acrescentaria o artista. Pouco sabe e pouco
dá valor à arte e aos artistas, aos artistas ditos eruditos e aos “malditos”
populares.
Estava eu e meus pares dirigentes do SINDSERM em uma mesa de
negociação, no salão do Palácio da Cidade, com o prefeito Elmano Ferrer e seus
secretários, era uma sala ampla com enormes janelões, bem iluminada. Chamou-me
atenção que havia muitos quadros nas paredes, achei interessante: eram de artistas
piauienses. Mas eis que observando mais um pouco, que surpresa: num canto
encostado em uma parede atrás de um sofá, exposto aos maus tratos da luz solar
e da umidade, uma quadro gritava por socorro, era um busto feminino, de
pincelada inconfundível: um desenho clássico em meio a manchas geométricas. Uma imagem de sonho, meio real e meio surreal.
Um Dora Parentes!
“Que ultraje!”, pensei, nossa “zelite” é singular. Se eles
tratam assim um Dora Parentes o que fazem com os “malditos” populares?
Joaquim Monteiro é arte-educador, especialista em história da arte e da arquitetura, cartunista, chargista, caricaturista e designer gráfico.
Joaquim Monteiro é arte-educador, especialista em história da arte e da arquitetura, cartunista, chargista, caricaturista e designer gráfico.
Olá Joaquim.
ResponderExcluirConheci este blog por indicação do Cartunage. Talvez esse descaso seja, em parte, uma forma de entender a ornamentação de natal da capital. Esteticamente essa administração é horrível.
Um abraço.
Jair Feitosa.
O descaso dessa "politicaca" com a cultura de nossa cidade não se dá apenas em um flagrante desses, não; a Fundação Cultural Monsenhor Chaves, que devia fomentá-la, acaba por matar de fome os artistas daqui. Um exemplo que não é tão visível assim é o que eu estou passando, pois tenho um livro aprovado pela Lei A. Tito Filho em 2009 e até hoje a fundação não fez os repasses finais das verbas para a finalização do projeto. E mais: os projetos que foram aprovados juntamente com o meu e os dos anos seguintes também não têm perspectiva alguma de serem concluídos. Isso, sim, é a "cultura" do empobrecimento.
ResponderExcluircom certeza, caro luiz
ResponderExcluiro caso do quadro da dora é só um sintoma, o da lei a. tito filho é a manifestação do mau com toda a sua força