A Câmara dos Deputados concluiu no dia 7 de agosto a
aprovação da Reforma da Previdência na Casa, proposta do governo de Jair
Bolsonaro (PSL). O texto aprovado na Câmara aumenta o tempo exigido para se
aposentar, criando idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 para homens. Além
disso, estabelece o valor da aposentadoria a partir da média de todos os
salários, em vez de permitir a exclusão das 20% menores contribuições. Prevê
ainda que o benefício sofrerá descontos, caso o trabalhador se aposentar antes
de completar 40 anos de contribuição.
A reforma também eleva as alíquotas de contribuição para
servidores públicos com salário acima do teto do INSS (hoje em R$ 5.839) e
estabelece regras de transição para os atuais assalariados.
As principais mudanças já adotadas em relação à proposta
original do governo foram a exclusão da tentativa de alterar o BPC (benefício
pago a idosos em extrema pobreza) e a aposentadoria rural e de criar um regime
de capitalização (em que cada trabalhador contribuiria para sua própria
aposentadoria separadamente).
Outra alteração foi a retirada dos servidores públicos de
Estados e municípios da reforma, algo que os senadores poderão retomar quando
analisarem a matéria.
Já a mudança do regime de aposentadoria dos integrantes das
Forças Armadas foi proposta pelo governo em um projeto de lei enviado à Câmara
em março e que ainda não começou a ser analisado. A sugestão do governo é
aumentar o tempo de mínimo de contribuição dos militares de 30 anos para 35
anos, sem fixar idade mínima.
A proposta também preserva os benefícios de integralidade
(direito a se aposentar com o valor do último salário) e paridade (continuar
ganhando na aposentadoria os reajustes concedidos ao funcionários ativos), no
que é apontado como um grande privilégio que está sendo mantido para a carreira
militar. As Forças Armadas justificam essa diferença dizendo que os militares
não se aposentam, mas passam para a reserva, podendo ser convocados. Na prática,
porém, um percentual mínimo volta a trabalhar após sair da ativa.
Toma lá da cá?
A votação da reforma em primeiro tuno a Câmara dos Deputados
foi marcada por um forte volume de emendas parlamentares liberado às vésperas
da apreciação da proposta. O governo fechou o mês de julho com R$ 3 bilhões
empenhados (primeira etapa para liberação de recursos) para esses gastos,
quarto maior mês desde janeiro de 2016.
As emendas são despesas que os parlamentares podem inserir
no Orçamento Federal voltado para suas bases, como construção de uma ponte, uma
quadra de esportes ou melhorias em um hospital. Desde 2016 sua liberação pelo
governo passou a ser obrigatório, mas o momento dessa liberação ao longo do ano
ainda é controlado pelo governo.
Nos bastidores, deputados pressionaram por mais recursos,
inclusive pedindo emendas "extras", além do obrigatório. Isso pode
ser feito com o governo destinando para cidades da base eleitoral dos deputados
recursos de programas federais que já estão previstos nos ministérios.
O que esperar do Senado?
A primeira etapa no Senado será a análise da proposta na
Comissão de Constituição e Justiça. Depois, a reforma terá que ser também
aprovada em dois turnos no plenário da Casa, com apoio de ao menos 49 dos 81
senadores.
Se houver mudanças no texto, a parte alterada terá que
retornar à Câmara para nova análise. Caso o Senado aprove parte do texto com
teor idêntico ao aprovado na primeira análise dos deputados, essa parte poderá
entrar em vigor enquanto o restante passar por nova votação na Câmara.
O governo e senadores favoráveis à reforma dizem que é
possível aprovar em dois turnos a proposta no Senado em setembro ou no início
de outubro. Já o analista político Lucas Aragão, da consultoria Arko Advice,
prevê um trâmite um pouco mais longo.
"Acredito na aprovação em outubro ou novembro. Os
senadores vão querer debater a propostas, até para dar satisfação a seus
eleitores", afirma.
O relator da matéria será o senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE). Ele pretende fazer a inclusão dos estados e municípios na reforma
por meio da apresentação de uma proposta separa da emenda à Constituição.
"Acho que é essencial (incluir Estados e municípios).
Estamos estudando com a nossa assessoria técnica qual é a saída que temos a
aplicar e, a princípio, a ideia é uma PEC paralela. Uma das funções do Senado é
manter o equilíbrio federativo", disse à Agência Senado.
Para Lucas Aragão, é provável que essa proposta em separado
seja aprovada no Senado. No entanto, ele vê dificuldade do tema prosperar
depois na Câmara.
"Se a inclusão de Estados e municípios passar no
Senado, a proposta vai chegar na Câmara para análise no ano que vem, ano de
eleições municipais. Deputados são mais sensíveis à pressão dos servidores
estaduais e municipais que os senadores, políticos mais estabelecidos e que têm
um mandato mais longo (8 anos)", ressaltou.
Fonte: BBC Brasil
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