Além da polarização política que
marca as eleições deste ano no Brasil, estudiosos tem apontado que o uso das
redes sociais e sua influência no processo eleitoral também é destaque. Mas,
mais do que o uso dos aplicativos em si, o que chama a atenção é a disseminação
indiscriminada de notícias falsas, as chamadas “Fake News”.
No último domingo (7), em pleno
1° turno das eleições, um vídeo viralizou no Facebook e pelo WhatsApp. Nas
postagens, um eleitor seleciona a tecla 1 e automaticamente aparecia o número
13 e o candidato Fernando Haddad na urna. O vídeo chegou a ser compartilhado
pelo filho do candidato Jair Bolsonaro, que acusou fraude.
Facilmente podia ser identificado
que o vídeo é uma montagem grosseira de edição. No mesmo dia, o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) esclareceu que o vídeo é falso e foi editado, e que não há
possibilidade de tal problema ocorrer. Um técnico explicou como a montagem foi
feita.
Mas até então, o estrago já
estava feito. O vídeo foi visto por milhares, senão milhões de pessoas, seguiu
sendo compartilhado e encarado como “verdade”.
Este é o problema das fake news.
Notícias e sites falsos, áudios mentirosos, imagens e vídeos manipulados são
compartilhados e se espalham rapidamente pelas redes indiscriminadamente.
No Twitter, um relatório da
Diretoria de Análises Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas revelou que
no domingo, o debate sobre eleições resultou em 2 milhões de menções. Mais de
um quarto foi sobre as urnas eletrônicas, a maioria levantando a suspeita de
fraude.
Teve de tudo. Uma postagem dizia
que o TSE havia entregue códigos de segurança das urnas para a Venezuela. Outro
que a Polícia Federal havia apreendido uma van com urnas eletrônicas
“preenchidas com votos em Haddad”. As informações foram desmentidas pelos
órgãos do governo e verificadas (e também desmentidas) por vários sites de
checagem de conteúdo.
A rede Whastapp deu início esse
ano a uma campanha para combater as Fake News. A empresa implementou mudanças
no aplicativo para controlar a distribuição de mensagens e vem publicando peças
publicitárias em veículos de comunicação para alertar contra informações
falsas.
Segundo pesquisa Datafolha, o
WhatsApp é a rede é a mais difundida entre eleitores brasileiros, utilizada por
66% deles, equivalente a 97 milhões de pessoas. Chega a ser maior do que o
Facebook, usado por 58% dos brasileiros que votam. No total, 120 milhões de
brasileiros usam o aplicativo no país.
A jornalista Juliana Gragnani, da
BBC News, com a ajuda de um sistema desenvolvido por pesquisadores brasileiros,
acompanhou durante uma semana 272 grupos no Whastapp. Seu relato é assustador:
“Em uma semana vi muita desinformação, como imagens no contexto errado, áudios
com teorias conspiratórias, fotos manipuladas, pesquisas falsas. Ataques à
imprensa tradicional, como capas falsas de revistas e falsa “checagem” de
notícias que, de fato, eram verdadeiras. Imagens que fomentam o ódio a LGBTs e
ao feminismo. Uma “guerra cultural” organizada, com ataques sistematizados a
artistas em redes sociais. Áudios e vídeos de gente comum ou de gente que se
passa por gente comum, mas com identidade desconhecida, dando motivos para
votar em um candidato”, disse.
Há outro lado das fake News que
especialistas também alertam: não se trata apenas de desinformação, como se
fosse algo sem motivação, feito apenas por “desavisados”. Hoje há indústrias de
Fake News. Literalmente, sites e empresas que produzem conteúdo falso a serviços
de interesses privados, sejam políticos ou mesmos econômicos.
O site “Vaza Falsiane”, criado
por jornalistas e professores universitários, explica que há profissionais
contratados para controlar grupos de perfis falsos. São chamados de “seeders” (“semeadores”,
em inglês) e têm o objetivo de disseminar conteúdo sobre os candidatos, como
pessoas comuns fariam. Em época de eleição, chegam a ganhar bons salários.
Saiba como identificar uma Fake
News:
Analise
Antes de compartilhar um texto, é
importante lê-lo com calma. Observe se ele possui palavras em letras
maiúsculas, exclamações, abreviações, erros de ortografia e excesso de
adjetivos. Desconfie se houver muitas opiniões, títulos sensacionalistas e
dados sem indicar a fonte.
Pesquise
As pistas para descobrir fake
news vão além do texto. Sites com nomes parecidos com o de veículos conhecidos,
que não identificam seus autores e não possuem informações de contato são
suspeitos. Às vezes, os especialistas consultados nem existem. Vale dar um
Google.
Confirme
Cheque se a notícia saiu em algum
outro jornal, revista ou site. Tome cuidado, pois um conteúdo falso nem sempre
é 100% mentiroso. Às vezes é só um trecho usado fora de contexto ou uma matéria
muita antiga compartilhada como nova. Essa manipulação contribui para a
desinformação.
Denuncie
No Facebook, é possível
classificar o conteúdo suspeito como “falso”: basta clicar nos três pontinhos
do canto direito da publicação. As agências de checagem de fatos especializadas
em confirmar ou desmentir discursos políticos, vídeos e até correntes de
WhatsApp possuem formulários de denúncia.
Serviços que combatem fake news
Aos Fatos (aosfatos.org): Agência
que verifica vídeos, correntes e memes que circulam na internet.
e-farsas.com: Criado em
2002, o blog foi um dos primeiros a desmentir boatos no Brasil.
B.S. Detector (bsdetector.tech):
Plug-in de navegador que analisa a veracidade e classifica o site acessado.
Vaza, Falsiane
(vazafalsiane.com): Curso online, gratuito e interativo sobre notícias
falsas.
Comprova
(https://projetocomprova.com.br): projeto que reúne jornalistas de 24
diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar
informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas durante a campanha
presidencial de 2018.
Com informações: Super
Interessante, Projeto Comprova, El País, UOL
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